“Tudo que começa com muito pode acabar muito pior”. Assim canta Maria Rita, nos versos de “Muito Pouco”, em uma coincidente ironia, na estreia de seu novo show “Segundo”. O disco de mesmo nome, posterior ao aclamado trabalho de estreia da cantora, talvez tenha sido a maior prova a ser passada por ela. Apesar de negar qualquer tipo de pressão quanto ao novo projeto, a expectativa do público e da crítica não poderia ter sido deixada de lado.

Após um grande início de carreira, abastecido por forte campanha publicitária e uma inegável – por vezes até arrepiante – semelhança com a mãe, umas das maiores cantoras da história da MPB, Maria Rita, mesmo sem fazer questão de comentar, teve a árdua tarefa de provar ao mundo da música que veio para ficar.

Ao que parece, não há por que se preocupar. Mostrando-se segura e serena, não fez qualquer alarde a respeito da recepção de seu novo trabalho, ressaltando apenas a imensa gratidão pelo espaço e crédito dados a ela desde o começo. Está calma, despretensiosa e feliz, o que é facilmente observado no decorrer do show, por meio de sorrisos e momentos de grande emoção, os quais ela não se proíbe demonstrar.

Um cenário intimista e bem resolvido é o que se vê no palco do Canecão. Tudo parece ter sido escolhido a dedo em um espetáculo com direção assinada pela própria estrela principal. E humildemente compartilhado com seus músicos, que dão o tom de sofisticação, desde o piano exuberante de Tiago Costa até a simpatia ritmada de Da Lua. Tudo isto acompanhado pelo timbre forte e flexível, muitas vezes deixando clara a influência do black americano sobre a cantora, que não se resume apenas por seu figurino étnico, criação de André Lima.

No repertório, além dos hits do primeiro CD, entoados energicamente por uma plateia animada, as bem-vindas e inéditas “Caminho das Águas” – atual música de trabalho – e “Recado”, de Rodrigo Maranhão, seguidas por “Mal Intento”, do vencedor do Oscar Jorge Drexler, em versão pouco menos cativante do que a apresentada no disco, e as belas canções de Marcelo Camelo – “Casa pré-fabricada” e “Despedida” – fizeram as honras da nova fase. Força no protesto lírico em “A Minha Alma” do grupo O Rappa e uma interpretação perto do sublime em “Sobre Todas as Coisas”, de Chico Buarque e Edu Lobo arrancaram do público aplausos calorosos.

Ao final do show, a casa de espetáculos parecia se render completamente à sua anfitriã. Sem a mesma pompa e circunstância apresentadas na turnê anterior, a simplicidade foi a arma escolhida por Maria Rita para deixar transparente seu talento e identidade musical. Ao ser comparado com o show de debut, “Segundo” pode dar a impressão de desaceleração por parte da artista. Porém, representa um pedido sincero de compreensão e atenção, para que não seja apenas a tão falada sombra da mãe, Elis Regina, que justifique o sucesso de Maria Rita. Não seria justo. Nem com ela, nem com a música brasileira.

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