Algumas vezes nos pegamos com a cabeça lotada de problemas, o coração apertado por uma angústia que chega invadindo tudo, sem pedir qualquer licença, e ainda o corpo cansado, em busca de trégua e um bom travesseiro. “Nessas horas, aparece a preguiça, a vontade de sumir de vez (1)”. Ou melhor, é assim que as músicas aparecem oferecendo uma espécie de S.O.S., como se fossem feitas para nós mesmos.

Fazendo uma “espécie” de pesquisa, este colunista aqui consultou informalmente alguns amigos e pessoas desconhecidas, e foi descobrindo músicas, letras e melodias que definitivamente mexem com a cabeça das pessoas.
Basta começar uma relação amorosa entre duas pessoas, que imediatamente canções vão sendo pinçadas, e de repente, a trilha sonora de um novo amor está feita.

A fase dos primeiros encontros é sempre uma coisa “isn’t she lovely / isn’t she wonderful (2)” como diria Stevie Wonder. O tribalismo, mesmo já batido, se faz presente: “você é assim / um sonho pra mim / quero te encher de beijos (3)”. Quando a coisa esquenta, tudo fica mais picante ao som de “want, needing, waiting for you to justify my love (4)” com Madonna e Lenny Kravitz.

Então aparecem os problemas na relação. Uma pequena traição, uma decepção, um descaso, e o verso mais conveniente e utilizado parece ser o infalível “mas não tem revolta não, eu só quero que você se encontre (5)”, de Peninha. Na hora da raiva, este verso aliás, sofre também uma pequena alteração: “não tem revolta não, eu só quero que você se f…”, para um caso mais extremo.

“Um amor assim violento / quando torna-se mágoa / é o avesso de um sentimento / oceano sem água (6)”, de Caetano Veloso, é a queixa do vazio que o fim de uma relação deixa (até rimou!). Se ainda houver diálogo, talvez Annie Lennox acalme os ânimos: “how many times do I have to try to tell you that I’m sorry for the things I’ve done (7)” (é uma tentativa…). Se houver reconciliação, é porquê “nós somos feitos um pro outro / pode crer / por isso é que eu estou aqui (8)” by Lulu Santos. Se não houver, “adeus também foi feito pra se dizer / bye bye, so long, farewell (9)”, e salve Guilherme Arantes!

Não são apenas os problemas amorosos que atormentam a cabeça de uma pessoa. A insatisfação quando se instala pode ser irremovível “but I still haven’t found what I’m looking for (10)”, isso depois de ter escalado muros altos, corrido pelos campos, e tentado de tudo, como na música do U2. Aliás, os irlandeses são responsáveis também pelo oposto disso tudo, o carpe diem, o otimismo, “it’s a beautiful day / the sky falls and you feel like it’s a beautiful day / don’t let it get away (11)”.

Os altos e baixos da vida, vão e vem como as canções, “como uma onda no mar (12)”. Durante a crise, berra-se “Quanta cachaça na minha dor (13)“ e emenda-se com “e pra matar a tristeza, só mesa de bar, quero tomar todas, vou me embriagar (14).” Uma fusão de Tom Jobim com Reginaldo Rossi, algo como vinho e whisky dentro do mesmo copo. Uma hora a ficha cai, a tristeza passa, e “um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer (15)”, o hino do amor-próprio.

Há sempre pelo menos uma música que possa expressar o que algum alguém sente. Seja de qualquer departamento, ela estará lá, pronta para reconfortar, reanimar, alfinetar. Quando dá tudo errado, ainda podemos fazer como Mary Poppins e dizer “supercalifragilisticexpialidocious (16)”!

1) Shangrilá (Rita Lee)
2) Isn’t She Lovely (Stevie Wonder)
3) Velha Infância (Tribalistas)
4) Justify My Love (Madonna)
5) Sonhos (Peninha)
6) Queixa (Caetano Veloso)
7) Why (Annie Lennox)
8) Um Pro Outro (Lulu Santos)
9) Pedacinhos (Guilherme Arantes)
10) I Still Haven’t Found What I’m Looking For (U2)
11) Beautiful Day (U2)
12) Como uma onda (zen-surfismo) (Lulu Santos)
13) Tema de Gabriela (Tom Jobim)
14) Garçom (Reginaldo Rossi)
15) Agora Só Falta Você (Rita Lee)
16) Supercalifragilisticexpialidocious (Desconhecido)

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