Ex-integrante do Trem da Alegria, Luciano Nassyn fala sobre sua volta aos braços do público

Luciano, Rodrigo ("Os Abelhudos"), Allan ("Polegar") Rodrigo Camargo ("Balão Mágico")
Luciano, Rodrigo (“Os Abelhudos”), Allan (“Polegar”) Rodrigo Camargo (“Balão Mágico”)

Nos anos 80, ele foi uma das crianças mais admiradas do país. Fez parte da primeira formação do Trem da Alegria, grupo que vendeu milhões de cópias e arrastou multidões com sucessos como É de chocolate (1984), Uni-duni-tê (1985) e Iô-iô (1988).

Os anos passaram e Luciano Nassyn não ficou parado no tempo, ao contrário do que possam pensar os antigos fãs do Trem. Músico de mão cheia, dono de uma voz poderosa e de um carisma muito peculiar, Luciano está em cartaz pelo país, apresentando o que há de melhor no pop rock de todos os tempos.

Durante os ensaios para a gravação do DVD Ploc 80 2, Luciano Nassyn conversou com Música e Letra, falou sobre sua carreira, relembrou histórias e mandou muito bem o seu recado:

Música e Letra Você participou do primeiro DVD Ploc 80, e está de volta ao Circo Voador, eleito pelo público como o artista que eles queriam rever nesta segunda edição. Como você recebeu esta notícia?
Luciano Nassyn Ah, é gratificante, porque você vê o reconhecimento do trabalho. E aí, você pensa: ” – pô, a galera chamando, é porque deixou alguma marca o primeiro, né?!”, que foi feito com muito carinho, com muito amor a quem estava assistindo, então eu acho que este sentimento é verdadeiro e existe, e a prova tá aí, eu tô aqui de volta. “O bom filho a casa torna”.

Música e Letra No primeiro DVD, você pegou as canções do Trem da Alegria e deu uma outra cara, transformando Uni-duni-tê (1985), He-man (1986) e Piuí Abacaxi (1987) em rockões. O que vai rolar nesta nova participação?
Luciano Nassyn A idéia desta nova participação na Ploc é resgatar um pedaço de Patrícia & Luciano antes do Trem da Alegria, com É de chocolate, e o Trem da Alegria pós-He-man, com Thundercats (1987). Tá certo que He-man é um ícone, né meu?, He-man é um hino, não tem pra ninguém. He-man é f… (risos).

Música e Letra E desta nova roupagem a outras canções também é feita a base de seu novo show, certo?
Luciano Nassyn Em todas as músicas de outras pessoas que a gente toca, eu tento colocar uma cara minha, com a sonoridade da banda, com bastante violão, com as guitarras mais distorcidas. Um som meio cru, a sonoridade do Luciano Nassyn é essa. Eu não exploro muito teclado e cordas, sonoridade de cordas. E a gente faz isso e funciona, fica fácil do público assimilar, não vem com muita informação. É a música no estado que ela tem que estar: música.

Música e Letra Voltando no tempo: há 15 anos você lançou seu primeiro disco solo, que trazia, a começar pela capa, um visual totalmente heavy, característica do início dos anos 90, tempo de Guns ‘N’ Roses, Skid Row etc. Foi um choque para o público?
Luciano Nassyn É complicado. Hoje, a galera ouve He-man com uma pegada rock and roll, que se o batera dobrar o gongo vira heavy metal, e eu venho com essa escola desde o Trem da Alegria. E aí, quando eu mudei o visual, as pessoas não assimilaram muito bem, porque o He-man era uma música de criança e o Luciano Nassyn veio com outra cara, mas o He-man já era rock and roll, as músicas do Trem já eram rock and roll, só que cantadas por crianças. Se a mídia tivesse mostrado isso, que a escola do Luciano Nassyn era o rock, a aceitação teria sido bem maior.

Música e Letra Você falou nessa questão de “música para criança”. Uma marca dos anos 80 foram os grupos (como o Trem, o Balão Mágico etc) que faziam música para criança. Hoje, com exceção da Xuxa, que continua neste filão, não se faz mais rock e pop para crianças, e o som de vocês continua lembrado, vinte anos depois. Como você vê este cenário?
Luciano Nassyn Alguém tem que tomar uma providência rápida (risos). As músicas do Trem da Alegria, do Balão Mágico, enfim, eram criadas por adultos, com sonoridade adulta, com responsabilidade adulta, só que para criança. Hoje, as pessoas pensam em fazer música pra criança com a mentalidade da criança, que já não é mais a mesma de vinte anos atrás, e que não será a mesma daqui a vinte anos. Então a criança prefere ouvir Capital Inicial ou até mesmo a Tati Quebra Barraco porque é a sonoridade que ela curte, só que, lógico e evidente, as letras não são para elas. Se você tivesse uma banda de criança com sonoridade de adulto (como o caso do Rebelde, e por isso o Rebelde faz tanto sucesso, pois tem uma banda com muito peso, muito rock, muito instrumento, só que com letras direcionadas para os adolescentes, e essa é a sacada) seria lindo. Se houvesse essa mesma sacada para criança seria perfeito.

Música e Letra A Xuxa era “a madrinha” do Trem da Alegria, e participava de todos os discos do Trem. Duas décadas depois, como é a relação de vocês?
Luciano Nassyn Ah, é uma relação distante. Bem distante. A gente não tem contato (físico), assim. Mas eu a vi há um tempo atrás, em 2004, e ela me tratou super bem, e falou: ” – ah, legal que você tá voltando”, e eu falei: ” – obrigado, e se você puder me dar uma oportunidade de me apresentar, no seu programa, estamos aí”. Na época, eu estava numa banda e nem tinha a pretensão de voltar em carreira solo.

Música e Letra E qual foi o ponto de partida dessa volta?
Luciano Nassyn O ponto de partida dessa volta foi quando eu passei a cantar He-man nos lugares que eu tocava e eu via uma euforia além do normal. É engraçado: existem duas músicas do meu show que, quando eu toco, elas promovem uma essência eufórica nas pessoas que é muito interessante, que é Eva, do Rádio Táxi, e He-man, que deixam a galera num êxtase absurdo. E eu pensei: ” – pô, isso é anos 80, isso é uma coisa boa, porquê não fazer coisa boa?”. Aí eu resolvi trazer esse lado pro meu show e funcionou. A gente já fez três vezes aqui no Circo Voador com a minha banda e foi maravilhoso.

Música e Letra No outro DVD da Ploc 80, você encerra o show, e, ovacionado pelo público e visivelmente emocionado, você afirma que “não tem nem voz para agradecer”, e pede que Deus abençoe a todos. Fale um pouco sobre aquele momento.
Luciano Nassyn Cara… foi um impacto muito grande, porque eu cheguei aqui no Circo Voador e pensei: ” – pô, vou cantar He-man, será que vai rolar?”. Eu estava muito nervoso, com uma adrenalina muito grande. Bem, subi no palco com a mesma garra de sempre, só que, na hora que o público começou a gritar: “- mais um, mais um” e “- eu tenho a força, sou invencível”, eu senti uma coisa subindo e fiquei muito emocionado. Eu não esperava essa reação, acho que ninguém esperava… tanto que marcou o primeiro DVD e hoje, felizmente, estou aqui de volta.

Música e Letra Qual a maior lembrança que você guarda do Trem da Alegria?
Luciano Nassyn Hum… Foi no Maracanã, lotado. Eu lembro da gente entrando e a galera gritando… parecia que tinha saído um gol do Flamengo! (risos), uma loucura. Isso foi em 1985.
Música e Letra E existe alguma coisa que foi feita naquele tempo, que você não faria de novo?
Luciano Nassyn Tem, tem sim. Eu talvez não teria abandonado o Trem, se bem que, na verdade, eu não abandonei o Trem da Alegria, eu fui forçado a abandonar o Trem da Alegria por causa de idade, essas coisas. Eu teria brigado mais, eu teria ficado mais um ano. Eu teria acumulado mais experiência.

Música e Letra Você tinha 14, 15 anos…
Luciano Nassyn Eu tinha 15 anos.

Música e Letra Você hoje está com 33 anos, e tem uma filha de 7, chamada Giovanna. Como ela vê, de repente, o pai dela, ícone de uma geração, com um monte de gente gritando, lotando shows etc?
Luciano Nassyn Ela é uma tiete nata (risos). E ela adora… as vezes que eu tenho a possibilidade de levá-la para os shows, quando é uma oportunidade especial, ela fica na frente do palco olhando, e fica doida, fica assim: ” – ei, ei, olha pra mim”, e canta as músicas do Trem… é um barato!

Música e Letra Boa parte da sua divulgação é feita pela Internet. A gente está vivendo um momento que o CD vem perdendo a força para o formato digital, numa velocidade muito maior que o vinil perdeu para o CD. Como você vê essa “guerra”?
Luciano Nassyn Eu não sei. A indústria fonográfica tem que arrumar um jeito pra se adaptar a isso, senão vai morrer na praia, e aí os artistas morrem na praia, sem ter distribuição nacional. Pela Internet, já fizeram mais de 10.000 downloads de uma música minha, e eu fico muito feliz, pois é como se eu tivesse vendido 10.000 CDs. Mas não é o suficiente: 10.000 downloads não é o suficiente pra vender um show, se você não tocar no rádio, não aparecer na TV, tudo isso necessita de verba, e quem disponibilizaria isso seriam as gravadoras, as grandes gravadoras – coisa que elas não fazem mais. Então eu acho que eles tem que arrumar um jeito de viabilizar o formato MP3 para que todo mundo saia ganhando, pois quem tá perdendo com isso é o consumidor final, que não tem acesso à Internet, pessoas que só têm acesso a rádio, a TV.

Música e Letra Aqui no Rio está surgindo um movimento chamado JABÁSTA, que busca acabar com o jabá nas rádios. Naquele tempo do Trem, havia jabá ou não?
Luciano Nassyn A gente tinha uma gravadora de peso, que era a RCA Victor, que depois se transformou em BMG Ariola e hoje é a Sony Music. E se eu te falar que “ah, eles pagavam jabá” eu vou estar mentindo. Eu não sei, não faço a menor ideia como funcionava. Mas eu garanto uma coisa: era muito mais fácil, porque a gravadora tinha um casting muito grande, então ela podia fazer uma permuta com as rádios, ela podia colocar dois, três artistas pra fazer um show, em troca de você tocar essa outra pessoa. Era uma coisa assim, digamos, menos corrupta.

Música e Letra E o que vai rolar daqui pra frente?
Luciano Nassyn A ideia é fazer um CD de pop rock, que é a sonoridade que eu descobri pra mim, assim, pra que toque no Brasil inteiro e que a gente possa mostrar esse trabalho pra todo mundo, mas sem esquecer das origens. Eu não vou esquecer do Trem da Alegria, mas eu quero mostrar o que eu sei fazer, as composições, as canções novas, o que tá dentro da cabeça do Luciano, o que ele pensa de algumas coisas, e levar este sentimento pra todo mundo. É isso que o artista gosta de fazer. Os caras falam: ” – ah, o cara faz um CD pra ganhar dinheiro!”. Lógico: se você tá trabalhando pra divertir alguém o mínimo que você tem que ter é dinheiro. Mas o dinheiro não é só o lance: o lance é você passar todo aquele sentimento de quando você tá compondo uma canção. Quando você tá compondo, você tá depositando todo o teu lado inconsciente pro consciente pra poder passar pro papel e, de repente, gravar numa bolachinha, num CD, pra, de repente, o cara ouvir e lembrar da mina dele, ou lembrar da mãe que ficou lá em Salvador, ou do amigo que viajou e não deu tchau, isso tudo as minhas canções promovem, e eu quero mostrar isso pro Brasil.

Música e Letra Que mensagem você mandaria para as pessoas, para os fãs e as novas gerações que estão vindo aí, sedentas de música?
Luciano Nassyn Me aguardem, porque eu não quero parar por aqui só não. Eu quero mostrar muito mais e, evidentemente, agradecer o carinho imenso, principalmente do povo carioca, do povo paulista, que vão aos meus shows, e a galera cada dia mais lotando os espaços, e isto é muito gratificante. Aqui no Rio, em Natal, em Belém, em Fortaleza, a galera foi muito receptiva, então eu agradeço de paixão mesmo por todo esse carinho. E aguardem!

15 thoughts on “Ele tem a força

  1. Luciano, você faz parte da história musical do Brasil, siga sua carreira, produza coisas novas, brigue pra que seja divulgado, tem uma galera legal que gosta do seu trabalho.

    Fique com Deus e que ele ilumine o seu caminho.!!!!!!!!

  2. DEmais essa entrvista com o Lu!! Espero que esse dvd seja um secesso!! Que Deus te ilumini Lu, obrigado por vc existir e ter feito parte de um grupo tão contagiante como o Trem da Alegria!!!

  3. Luciano, hoje estou com 31 anos e olho para tras e vejo que nós quando crianças, tinhamos bandas e programas só para nós, mas fico com pena das crianças de hoje que as opções para elas são poucas: Elas não conheçeram o " TREM DA ALEGRIA, o Balão Mágico, o Xou da Xuxa, o Bozo. Enfim programas com conteúdo rico, que só vocês sabiam fazer agente feliz.

  4. Ahhhhhhhhhhhá!!! Seus três amigos aqui tb… e olha só que coincidência, Lu… acabei de achar essa entrevista e, de repente, nos chega um lindo e-mail da Denise!!! Adorei ler mais uma belíssima entrevista, parabéns ao Fabio Vizzoni! Tudo isso porque vc merece, amigão!!! Adoramos vocês!!!!!!!!!!!

    Amigos Fabio, Fabí e Pablo (o xérox, rssss)

    PESSOAL, Convido à todos para lerem a entrevista que fiz com o Luciano Nassyn para o blog da Guarará Jardins.

    http://www.guararajardins.b

  5. Poxa cara foi muito bom saber que vc esta bem , fui seu vizinho la no bom retiro na rua joão fracaróle . Eu e toda minha familia somos seus fãs incondicionais , eu sou o jorge filho do Sr fernando e Dn gisélda .
    Um fórte abraço e tudo de bom para vc e sua familia …

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