De Adriana Calcanhotto a Zezé di Camargo, são incontáveis os nomes da música popular brasileira que já gravaram ou cantaram canções escritas por Carlos Colla, o advogado que trocou o direito pela música e que, nas últimas décadas, se tornou um dos autores de maior popularidade da MPB.
Em 2009, Carlos Colla se prepara para lançar seu primeiro DVD, gravado ao vivo no ano passado no Canecão, no Rio de Janeiro, onde comemora 50 anos de carreira, interpretando ele mesmo suas obras primas, com participação especial de Alcione.

Por telefone, Carlos Colla conversou conosco, e falou sobre momentos de sua carreira, parceiros e intérpretes que, reunidos, somam mais de 2000 canções gravadas.

Música e Letra – Como é que surge inspiração pra compor tanto?
Carlos Colla – Acontece o seguinte: eu fiquei durante muito tempo sem ter a possibilidade de compor. Até os trinta e poucos anos, eu exerci uma outra profissão que não me dava chance, eu fazia só uma música por ano, que era pro Roberto (Carlos). Aí, quando eu joguei tudo pro alto e troquei a ganância pela felicidade (risos), comecei a compor sem parar, de forma compulsiva. Compor é uma delícia: só tem duas coisas que se comparam a compor: comer e trepar!

Música e Letra – E você tem uma estimativa de quantas músicas você já escreveu?
Carlos Colla – Não, mas é muita coisa, muita coisa. Eu tenho um parceiro, o Michael Sullivan, o Sullivan vem cá pra casa com doze, quinze ideias preparadas. Aí, a gente pega um dia inteiro e faz dez, doze músicas. Fora isso, eu faço um exercício de composição todos os dias. Mesmo que saia uma porcaria, uma droga, eu tento fazer uma coisa que saia diferente do que o que eu já fiz ou que outros já fizeram. É uma tentativa meio inútil, porque, por mais que você faça música, já existiram Beethoven, Mozart, Chopin, essa turma toda que chegou na frente. Eles criaram tantas coisas maravilhosas, e pouco sobrou pra gente criar. Mas a tentativa vale, e dessas tentativas as vezes saem coisas boas.

Música e Letra – Nessa relação com parceiros, você normalmente faz a letra, faz a música ou isso independe?
Carlos Colla – Independe. Na verdade, às vezes eu faço só a letra, as vezes eu faço só a música mas, na maioria das vezes, é tudo junto, tudo misturado.

Música e Letra – É difícil pra você, como compositor, interpretar suas próprias canções depois que elas já fizeram sucesso com outras vozes, deram outras versões para aquilo que você escreveu?
Carlos Colla – Ah, bom… claro que é, primeiro que eles são cantores, e eu sou compositor. Você pega um Roberto Carlos, por exemplo. Depois que ele canta, fica difícil pra qualquer outra pessoa cantar. Ele faz a coisa tão bem feita, tão perfeita, tão correta, não é?! E outros mais que, as vezes, a música nem é lá essas coisas, mas o cantor transforma, faz ela ser uma interpretação única.

Música e Letra – Então esse seria o motivo para que você, até hoje, só tenha gravado dois discos e, agora, preparando o DVD e o CD?
Carlos Colla – Não, não, o motivo não é esse não. O motivo é que eu adoro compor, e se eu começar a me meter a cantor, eu vou perder tempo pra compor, eu não vou ter tempo pra fazer a coisa que eu mais amo fazer na minha vida. Pegar o violão, sonhar… quando eu boto o violão na mão, eu sou qualquer coisa, cara! Eu consigo me transformar em qualquer coisa, sou velho, sou criança, sou valente, sou fraco, sou covarde, sou inteligente pra caramba, burro à beça (risos)… eu posso me dar o prazer de ser o que eu quiser, porque é outra pessoa que vai cantar aquilo, não sou eu.

Música e Letra – Voltando um pouco na sua carreira: Conte para nós como foi sua estreia como compositor profissional quando, no início dos anos 1970, ainda integrante do O Grupo, você pediu ao Roberto Carlos uma música para o LP da banda e ele inverteu o pedido:
Carlos Colla – Bom, naquela banda eu era o último a falar o primeiro a entrar na porrada, porque eu vinha da roça – Teresópolis naquele tempo era roça – e o pessoal era todo daqui, Zona Sul, filhinho de papai, todo mundo bem na fita, e me discriminavam, porque eu não me vestia como um garoto da Zona Sul, não falava como um garoto da Zona Sul, então ficava lá, recolhido no meu cantinho mesmo e tudo bem. Toda ideia que eu dava, não prestava. O Maurício (Duboc, um de seus parceiros musicais mais freqüentes, e que também era da banda) era amigo do Roberto, e sabia dos meus poemas, das minhas músicas e tal, e a gente se dava muito bem porque nós éramos os últimos a falar, ele era o mais novo, então a gente se unia mais por rejeição dos outros. Os caras da banda eram fantásticos, tinha gente que estudou harmonia com Eumir Deodato… os caras eram fodões mesmo, e a gente ia gravar um disco. Aí o Maurício disse: “ – vamos lá, Carlinhos, vamos falar com o Roberto”, e eu disse: “ – vambora!”. O Roberto estava no camarim e nós, no palco. Fomos lá, falamos com ele que íamos gravar um disco, e precisávamos de uma música pra botar numa novela. Ele fez a música pra gente, e falou: ” – tá, tudo bem, mas porque vocês não fazem uma pra mim também?”. Eu e Maurício saímos e fomos pra casa do Roberto Quartin, em Ipanema, que tinha um piano maravilhoso e tal, e fizemos as duas músicas (A Namorada e Negra), em menos de duas horas. Foi uma coisa muito rápida.
Aí, o Maurício foi a São Paulo e levou a fita pro Roberto. Ele chegou lá e ficou aguardando, enquanto o Roberto estava ensaiando. Ele entregou a fita ao Roberto, mas sentou ao piano e começou a cantar e tocar, ao vivo. E o Maurício é fodão, né, toca pra caramba… (risos), canta pra caramba, harmoniza pra caramba, uma voz lindona. Impressionou, né?! Aí o Roberto adorou. Eu nem fiquei sabendo disso, ele só me contou depois. Eu fiquei sabendo mesmo quando eu recebi na minha casa um telegrama da antiga CBS (hoje Sony Music), me convocando pra assinar um contrato.

Música e Letra – E, a partir daí, foram surgindo uma série de músicas, que o Roberto foi gravando ano após ano, uma em cada disco…
Carlos Colla – É, naquele ano – 1971 – ele gravou A Namorada, no ano seguinte ele gravou Negra, e no terceiro ele ligou pedindo: ” – Quero mais uma!”. E foi daí que ele começou a ligar pra pedir. NOTA: a partir daí, Roberto Carlos gravou: Sonho lindo (1973); Existe algo errado (1975); Comentários (1976); Falando sério (1977); Mais uma vez (1978); Me conte a sua história (1979); Passatempo (1980); Doce loucura (1981); Quantos momentos bonitos (1982); A partir desse instante (1983); As mesmas coisas (1984); Você na minha mente e Da boca pra fora (1985); Eu sem você (1986); Ingênuo e sonhador (1987); Se o amor se vai e Eu sem você (1988); Se você me esqueceu e Se você pretende (1989); Um mais um (1990); Se você quer e Não me deixes (1991); Pra ficar com você (1995) e Como eu te amo (2003).

Música e Letra – Entre as suas composições, nessas que foram sucessos com Alcione, com Emilio Santiago, Tim Maia, Jerry Adriani, Wando etc, quais são as suas prediletas?
Carlos Colla – Com o Wando, Amor vira lata, que nem fez tanto sucesso assim, mas eu acho que ele arrebentou ali, cantando; Bye Bye tristeza, com a Sandra de Sá. E aquelas interpretações que são tão únicas, tão maravilhosas, tão perfeitas, que ninguém mais consegue gravar a música. Por exemplo o (Agnaldo) Timóteo, que gravou uma que eu fiz com o Eduardo Lages, no tempo que eu era advogado ainda, chamada Etiquetas. Depois, na febre dos sertanejos, algumas duplas tentaram cantar, mas quando escutava a dele, não dava pra ficar igual. Outros solistas também, mas não dava pra ficar igual. Falando sério também, a interpretação do Roberto é imbatível, embora a Simone tenha gravado lindo, a Bethânia tenha gravado lindo, Fábio Jr., Paulo Ricardo… o Brasil tá muito bem servido de cantores, né?!

Música e Letra – Pra terminar, qual o recado que você mandaria para as pessoas que acompanham o seu trabalho, através dessas músicas maravilhosas?
Carlos Colla – As grandes fortunas são feitas na crise. Nós estamos vivendo um momento de crise no mundo, momento de muito medo, de muita insegurança. Então, gente, nesse momento, é a hora de andar pra frente, de pegar pesado, de arregaçar as mangas e ir fundo, vamos fazer música, vamos pintar, vamos escrever, vamos fazer as coisas que nós sabemos fazer, porque a crise a gente vence é com isso: é com trabalho.

6 thoughts on “Carlos Colla, o compositor das vozes de A a Z

  1. estou procurando a música personagem de autoria de carlos cotta gravada na voz de fafá de belem numa coleção chamada pérolas a qual não consigo encontrar em juiz de fora e nem na internet.ficarei grata se for ajudada!

  2. Para mim…a melhor composição do Carlos Colla foi a Versão de CARA OU COROA…que foi gravada pelo MENUDO…em 1984 e que foi regravada por Zezé Di Camargo e Luciano.

  3. sou fam incodicional do talento desse compositor e fico orgulho de ver com humildade um caipira vecer,sou tbm caipira e compositor iniciante e sei bem o q e ter talento e ser descriminado,mas com fe humildade a resposta esta no grito de cada passoa cantanto o q gosta e nao sabe q sua historia o caipira escreveu,um abraço

  4. sou fam incodicional do talento desse compositor e fico orgulho de ver com humildade um caipira vecer,sou tbm caipira e compositor iniciante e sei bem o q e ter talento e ser descriminado,mas com fe humildade a resposta esta no grito de cada passoa cantanto o q gosta e nao sabe q sua historia o caipira escreveu,um abraço

  5. Carlos colla,sou mais que seu fã,sou músico e sei todas as suas composições,e ensino todas as suas músicas aos meus alunos…tenho sonho de conhecer você e abraçar e apertar sua mão e dizer: você faz parte da minha vida….você é simplesmente o melhor……Deus te abençoe sempre…

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