Em entrevista exclusiva, o cantor e compositor fala sobre o sucesso com as canções na trilha de “Caras & Bocas”
João Pinheiro - Foto: Fábio Vizzoni

Em março de 2007, João Pinheiro entregou-me, em mãos, um exemplar do CD que ele acabara de gravar. De imediato, achei a proposta muito interessante: um cantor brasileiro interpretando sucessos de uma nigeriana – neste caso, a estrela Sade Adu.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu: a mídia comentou – e nós também (leia aqui) – e, do Domingão do Faustão à Revista Vogue, muita gente aprovou (e adorou) a mistura de sons brasileiros de João canta sings Sade. Tanto que a badalada Vogue elegeu o álbum como “a trilha sonora do verão 2008”.

Quando o ciclo de vida do disco parecia entrar em sua reta final, uma surpresa: uma das faixas do CD foi parar na trilha da novela “Caras & Bocas”. “No Ordinary Love” virou um dos principais temas da trama de Walcyr Carrasco. E agora, na trilha internacional da mesma trama, João emplaca mais uma: “All about our love”. Um caso raro na história da MPB: afinal, não é todo dia que um músico independente consegue, cantando em inglês, ter duas canções de um mesmo trabalho em execução diária na TV, durante meses.

E é assim, em clima de comemoração, que João Pinheiro se apresenta esta quarta (12) no Teatro Rival, às 19h30. E foi, no meio da correria dos ensaios para o show, que ele conversou conosco, via e-mail:

Música e Letra: Ter uma música inserida na trilha de uma novela global é privilégio para poucos, e você emplacou… duas, na mesma novela! como é que você se sente em relação a isso? o que mudou depois que os versos de “No ordinary love” e “All about our love” foram parar, com destaque, em “Caras & Bocas”?

João Pinheiro: É o sonho, de todo cantor, ter uma música na novela. Quando “No ordinary love” abriu, literalmente, o primeiro capitulo de “Caras e Bocas”, o coração veio a boca e, em seguida, a calmaria devolveu-me paz: “um sonho realizado, meu trabalho já está registrado na história da cultura popular do meu país.” Três meses depois veio novo convite para a inclusão de outra música no folhetim de sucesso da Globo: agora era a vez de “All about our love” entrar também para a trilha sonora, só que a internacional. O que já era bom ficou melhor ainda, é quando o impossível acontece e nos surpreende. Aproveito para mandar aquela beijoca joca especial para essa pessoa querida que é o Jorge Fernando, diretor da novela e quem descobriu, numa loja de discos, o “João canta Sade”.

Música e Letra: Assim como as novelas “são esticadas” à medida que o público aprova as tramas, o CD – que foi lançado há cerca de dois anos – também ganhou “uma esticada” ou você já prepara um próximo disco?

João Pinheiro: Ao final de 2008, na volta da turnê pela Europa, eu já estava começando a gravar o próximo álbum, o “Entrenós”, um disco com 13 duetos, produzido por André Agra, o mesmo do Sade, e ainda estou gravando a medida que os artistas envolvidos no projeto têm as suas agendas disponibilizadas. São eles: Edu Krieger, Fred Martins, João Fênix, Manu Santos, Rita Benneditto, Arranco de Varsóvia, Eliana Printes, Patrícia Mellodi, Luanda Cozetti, Ana Costa, Suely Mesquita, Nilze Carvalho, Hermila Guedes e a participação especialíssima de Roberto Menescal. Mas com o Sade, em momento algum, pensei em ter um fim, pelo contrário, ele foi preparado para sempre ser feito, independente de outros projetos. Por exemplo, agora me preparo para fazer, novamente, o espetáculo Chico & Bethânia, só que agora em companhia da cantora Manu Santos. Vamos fazer a Sala Baden Powell, no dia 21 de agosto. Já estava com saudades de voltar a interpretar as músicas desse LP, gravado em 1975 ao vivo no Canecão, em plena ditadura militar.

Música e Letra: Seus shows sempre tem umas surpresas bacanérrimas, guardadinhas na manga. Dá pra contar alguma pra gente ou só conferindo quarta-feira no Rival pra saber?
João Pinheiro: Tem algumas sim! mas posso contar uma: farei uma música inédita minha e de André Agra, “Uma Palavra”, acompanhado apenas de máquina de escrever! acho que vai ser um momento bem bacana e especial do show!

Música e Letra: Ser independente é complicado e (quase) todo mundo sabe disso. A Internet se tornou uma ferramenta de divulgação dos artistas, principalmente com as redes sociais (Orkut, Twitter, Facebook etc). Como é o retorno dessa troca entre você e o público?
João Pinheiro: O retorno é imediato! domingo ensaiei para o show e, antes, mandei essa informação para o twitter. Na mesma hora muitas mensagens chegaram desejando um ótimo ensaio para mim. O fã fica sabendo o “passo a passo”, o todo processo de preparação de um espetáculo, de um disco, de uma turnê. A relação artista-público é outra. O alcance do trabalho é multiplicado por cem, é repassado, é lido, respondido e comentado. Conversava com amigo sobre isso: antes da internet, ficávamos horas no telefone, a um custo altíssimo, tanto financeiro quanto de paciência, divulgando entre os amigos os nossos shows. Agora não, tudo é mais prático e rápido.

Música e Letra: Quer mandar um recadinho?
João Pinheiro: Quero agradecer a todas pessoas que torceram e que torcem pelo meu trabalho, pela vibração e carinho com que sou tratado. E dizer que o que sempre fiz foi cantar, esse é o princípio, o meio e o fim, me concentrei e faço disso minha rotina feliz de vida, discordando de todos que acham que a vida do cantor é um muro de lamentações. Tudo nesta vida é assim: requer trabalho, foco, concentração, disciplina e amor no que você faz. Porque pensando só em dinheiro e sucesso, é melhor trocar de carreira e procurar outro meio de vida. Penso que primeiro deve vir o prazer e dele fazer valer o dinheiro e o sucesso, que não vêm de graça. Depende também do tamanho do sucesso que você quer: se você for médico e quiser ser ministro da saúde é uma coisa, se for engenheiro e, quem sabe um dia, ter uma ponte com seu nome também é outra coisa. Ou simplesmente você pode ser um médico, um engenheiro e ser feliz dentro desse seu sucesso. Eu sou cantor. E você?

Ping-pong:
Ouvi e gostei: uma prévia que ouvi do primeiro CD de Fernanda Guimarães, cantora de Alagoas, agora morando no Rio de Janeiro
Li e gostei: a série “Dez Contos” da Editora Mirabolante, tem “Dez contos de Humor”, de Terror, Policial…
Vi e gostei: o filme “De repente, Califórnia”, leve e sem os clichês de que todo gay tem que sofrer, ter um passado trágico etc etc etc
Tô adorando: dias de verão no meio do inverno, dou grandes voltas com a minha husky, a Layla!
Tô detestando: a cada ano que passa uma doença nova
Pessoas que admiro e bato palmas: Marisa Monte (cantora), André Agra (produtor) e minha mãe
OPA! eu recomendo: usar e abusar da internet, dos canais de música, do myspace e tantos outros, é um mundo novo
XIII… é cilada, pula fora: ficar reclamando da vida sem mover uma palha para que mudanças aconteçam.
E pra terminar: “Caras”, “Bocas” ou os dois? as bocas das caras… risos!

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