Em entrevista, Marinho e Sérgio, da Turma da Pompéia, falam sobre a “Liverpool Brasileira”

Imaginem-se em um bairro onde a tradição não era uma breguice careta, onde a música clássica não era tocada por violinos e nas garagens não se guardavam apenas carros, mas também guitarras, amplificadores, contra-baixo e bateria. Isso era a Vila Pompéia, a “Liverpool brasileira”. O bairro ficou conhecido como o antro de bandas que fizeram história no puro rock nacional nos anos 60 e 70, foi o berço do consagrado “Roque Brasilês”, onde até hoje nascem futuros re-percursores do rock ’n’ roll.
Mais de 30 anos depois, os músicos da Pompéia se reuniram para relembrar os tempos do bom e velho roquenrou. Juntando os integrantes de bandas como Os Barrocos, Mutantes, Tutti Frutti, Made in Brazil, Rádio Táxi, Joelho de Porco, Os Incríveis, O Som Nosso de Cada Dia, Patrulha do Espaço e Pholhas, a “Turma da Pompéia” voltou com tudo, aumentou o volume e fez alguma coisa pelo nosso rock.
Em entrevista exclusiva ao Música e Letra, Marinho, idealizador do projeto e ex-integrante da banda Os Barrocos, conta tudo sobre a Turma, desde seus sonhos até a próxima empreitada.

Música e Letra Primeiramente vou começar por uma pergunta óbvia: o que era a Pompéia na década de 60? Porque esse bairro se tornou uma “Liverpool brasileira”?
Marinho
Bom, quem vai responder essa pergunta é meu amigo e parceiro Sérgio Beatle, que pode lhe explicar melhor:
Sérgio A onda eram os bailes, onde se ouvia e dançava Elvis Presley, Chuck Berry, Ventures, Shadows, Little Richard, Ray Conniff, além de músicas italianas e sem esquecer também o “Rei” Roberto Carlos. Esses bailes eram comportados, familiares; então quando o rock inglês chegou com Beatles, Rolling Stones, The Animals, eles mudaram o comportamento das pessoas e os bailes. Na Pompéia, na rua Cotoxó ao lado do escadão, aos sábados à noite existia o “Baile dos Cabeludos”, onde se ouviam os discos mais quentes; pois o dono do baile, o Messias, tinha discos importados, então nós ouvíamos músicas antes mesmo delas chegarem nas rádios. Foi uma mudança de comportamento; adolescentes começaram a desabafar suas dúvidas e rebeldias numa forma de música, ouvindo, dançando e cantando: o rock ‘n’ roll! Na Pompéia em cada esquina se ouvia uma banda tocar, e nas garagens já não se guardavam apenas carros, mas também guitarra, amplificador, contra-baixo, bateria… Isso pode ter acontecido em vários bairros de São Paulo, mas na Pompéia era diferente; nós vivíamos o clima da Liverpool Brasileira; por dentro nós éramos os Beatles, os Rolling Stones, e isso tudo resultou numa explosão de bandas pelo bairro como os Rebels, os Finos, os Barrocos, os Mutantes, Made in Brazil, Fush, Pholhas, Missali e a Tradicional New Orleans Jass Band, As Feiticeiras, Nick James, Pompéia X-9, Patrulha do Espaço, Tutti-Frutti, Moto-Perpétuo, etc.

Música e Letra Depois de 30 anos de rock ‘n’ roll pulsando nas veias, você encabeçou um projeto que reúne alguns dos maiores nomes do Rock Nacional, todos vindos da Pompéia. Porque esperar tanto tempo para juntar a “Turma da Pompéia”?
Marinho Quando você acha que nada mais vai acontecer na tua vida uma coisa muita linda e louca acontece. Eu estava em Trindade, morando numa barraca e, pra mim, o campeonato já tinha acabado, estava só cumprindo tabela; quando numa bela manhã uma voz veio ao meu ouvido e me disse: Marinho, vai lá na Pompéia e reúne a Turma toda e grave um CD! Eu fiquei assustado, mas foi assim mesmo e por várias vezes nos outros dias a voz vinha no meu ouvido. A partir daí eu me senti cheio de força e fé , e entendi que era uma missão que tinha de cumprir. Cheguei no meu amigo Paulinho do camping que eu morava e falei pra ele que ia voltar pra Sampa pra gravar um CD com a Turma da Pompéia (ele não entendeu nada…) e coloquei o pé na estrada.

A Turma da Pompéia em ação (Foto: Carolina Mendonça)
A Turma da Pompéia em ação (Foto: Carolina Mendonça)

Música e Letra Como foram as gravações, o surgimento das composições e a reunião de fato desses grandes músicos para a gravação do CD?
Marinho Cheguei em São Paulo, procurei o estúdio do Fernando e Jô (Mad Studios) e eles nos deram a maior força. Eu estava com muita fé; reuni os compositores: Sergio Beatles, Bororó, Tibério e Kiko, e falei sobre o CD, e todos acharam uma grande idéia e a abraçaram com toda força. Foram dois anos e meio de batalha, desde a saída do camping até o lançamento do CD no Sesc Pompéia, em 30 de outubro de 2003. Quando mostrei uma demo da música Liverpool Brasileira para o Luiz Sergio Carlini ele logo falou que queria tocá-la, e nos ajudou muito; ele gravou a primeira versão que saiu no 1º CD da Feira da Pompéia; nessa gravação participaram também Nenê Benvenuti (Rebels), Bororó, Sergio Beatle, Zezé e Tibério. No ano seguinte lançamos “Faça alguma coisa pelo rock’n’roll” na coletânea do Centro Cultural Pompéia, com Sérgio Dias Mutantes (guitarra), o pessoal do Made in Brazil: Oswaldo (gaita e vocal), Celso (guitarra base) Rick (bateria) e Vanderlei (teclados), Ruffino (vocal) Marinho, Hamilton Moreno, Sandro Manito e Bororó. Essas duas gravações irão aparecer como bônus no próximo CD da Turma. Parece que os compositores já sabiam que um dia isso ia acontecer, que era destino, pois as músicas estavam praticamente prontas, apenas esperando essa reunião. Enfim, gravamos quatro músicas no Estúdio Mad e depois tivemos que mudar de estúdio. Foi quando o Ruffino (Tutti-frutti) me deu a idéia de falar com o Wander Taffo (IGT) e este nos levou até o Oswaldo Malaguti Jr. (Pholhas e fundador do Estúdio Mosh). Ele gostou muito da ideia, nos deixou gravar no estúdio, prometeu a mixagem e masterização e inclusive até participou de uma música! No Mosh gravamos seis músicas e tivemos a participação de Favio Gutok na guitarra e Alex na mesa, que nos ajudaram muito com a produção. Depois, fomos gravar o restante no estúdio Zod (Sérgio Dias, dos Mutantes). O Serginho também se emocionou com a proposta e entrou de cabeça no projeto: gravamos no estúdio dele que, além de ótimo músico, também é ótimo produtor.

Música e Letra Muitos dos músicos que participam da “Turma da Pompéia” e outros que tiveram um grande sucesso no cenário musical, começaram tocando no grupo “Os Barrocos”, grupo em que você era o vocalista. Como era a formação da banda, o que vocês tocavam, como surgiu? Você pretende fazer algum dia um revival dos Barrocos?
Marinho Quando comecei a cantar e tocar em público a minha primeira banda que guardo no coração foi Os Barrocos, que teve um vocalista antes de mim, o Cláudio. Quando entrei na banda a formação era Bororó, Tibério, Oberdan Jr. e Barroca. Depois entrou Luiz Carlini, Zé Veia, Sérgio Beatle, Maninho e muitos outros. A Revista Pompéia Liverpool Brasileira, em sua 2º edição, entrevistou Oberdan Jr., um dos fundadores da banda que conta bem o caso; mas eu gostava de cantar tudo. Os Barrocos tocavam muito Beatles e Rolling Stones; agora imagine você um garoto nos anos 60 com 16 anos de idade cantando Beatles e Rolling Stones! Vai existir um revival sim, não apenas dos Barrocos, mas de todas as bandas que surgiram na Pompéia; um show bem elaborado, juntamente com o lançamento do novo CD da Turma da Pompéia chamado “Nossa Raiz”, com lançamento previsto para março de 2006, que será uma homenagem para nosso amigo Nilton Mariano, o Pelé, do Nick James.

Música e Letra Como está o bairro hoje em dia? Você acha que ainda nascerão alguns músicos inspirados no passado da Pompéia? Tem alguém que já desponta como um novo roqueiro do bairro?
Marinho Nosso bairro mudou muito. Muitas casas estão sendo demolidas para dar lugar a prédios enormes, o progresso chegou e transformou tudo; mas ainda estão por aqui os velhos amigos. Eu acredito muito na nova geração de músicos da Pompéia, tanto que muitos desses músicos novos e bons vão tocar no próximo CD da Turma, como o Bruno Bething, Sérgio Gorini (filho da Cecília Gorini, As feiticeiras, Conservatório Sta. Cecília), o Gustavo, filho do Kiko, o filho do Carlini e ainda muitos vão surgir ainda.

Música e Letra E o Rock? O que aconteceu com “Esse tal de Roquenrou”? Como tá a saúde do bom e velho?
Marinho Um aviso aos adolescentes de trinta: Meta a cara na estrada, seja um cigano errante genioso, e se o teu barato é som, faça alguma coisa pelo rock’n’roll! Na estrada, curta a velha nova transação e lembre daquele tempo do beijo muito louco, sinta o prazer de ouvir um acorde de guitarra da nossa Pompéia, Liverpool Brasileira.

Contatos para shows e venda de CD’s:
(11) 9652-2141 – Marinho
(11) 8532-6512 – Flávia

2 thoughts on “Faça alguma coisa pelo nosso Rock ‘n Roll

  1. sou fãn desses caras,conheci o mário sem pretenção nenhuma,atravez do tibério outra figura importante da vila pompéia, um bélo dia surgiu um convite p/ quebra um galho lá na batera, assim colóco em meu curriculon….toquei com os caras mais importantes do rock do meu pais…..parabens pela matéria….esses caras merecem o reconhecimento de quem faz rock brasileiro de qualidade……….

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