No último dia 2 de julho, o mundo pode conferir uma verdadeira manifestação humanista e única na história da música e da cultura mundial. Live 8, organizado pelo músico Bob Geldof, o mesmo que em 1985 produziu o concerto beneficente Live Aid a favor das crianças famintas da África, contou com 150 bandas internacionais, fazendo shows em 10 cidades, pelos quatro continentes do planeta.

O maior espetáculo da Terra contou com a participação dos maiores nomes da música internacional como Sir Paul McCartney, Madonna, U2, Sir Elton John, Sting, Annie Lennox, Green Day, Dido, Coldplay, Stevie Wonder, The Cure, Bjork, Mariah Carey, The Who, e ainda com uma reunião inédita dos integrantes do Pink Floyd, David Gilmour e Roger Waters, que não dividiam o mesmo palco desde 1981.

Diferentemente do Live Aid de 1985, o objetivo do novo festival não é arrecadar dinheiro do povo para ajudar a combater a fome na África, mas sim mobilizar e sensibilizar o G8, grupo dos países mais ricos do mundo, a tomarem uma atitude drástica em relação a questão da mortalidade infantil e da Aids no continente africano, onde a cada três segundos, uma criança morre.

Os shows

A maratona de 12 horas de shows, que foi transmitida no Brasil pela MTV, teve início no palco principal, em Hyde Park, Londres, onde Sir Paul McCartney se juntou ao U2 para uma performance memorável do clássico dos Beatles, Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, com direito a músicos fantasiados como os FabFour. Em seguida, o U2 tocou três de seus maiores hits, as músicas Beautiful Day, Vertigo e One. Bono como sempre deixou o seu recado: “Não estamos à espera de caridade, mas sim de justiça”. Na seqüência, Bjork diretamente de Tokyo, se apresentou com a música All Is Full Of Love, vestida de borboleta da paz.

A maratona seguiu intercalando shows das cidades de Berlin, onde o Green Day fez um show de puro roque enrow, tocando músicas do novo álbum, American Idiot, indicado para o Grammy desse ano, e trazendo também um cover inusitado de We Are The Champions do Queen; em Roma, um Simon Lebon totalmente acima do peso e ainda à frente do Duran Duran, desfiou baladinhas dos anos 80, como a já cult Save a Prayer; na Filadélfia, último palco a dar início aos shows, Will Smith como host, apresentou The Black Eyed Peas, bandinha hip hop da moda.

Politicamente Corretos

Voltando a Londres, um Elton John também acima do peso, cantou os clássicos The Bitch Is Back e Saturday Night’s Alright . Brad Pitt, antes de anunciar a próxima atração, Annie Lennox, afirmou: “até o momento em que este concerto terminar à noite, 30 mil africanos terão morrido em decorrência da pobreza extrema”. Annie chegou ao palco e sentou no piano para tocar Why, em seguida chamou a atenção dos dirigentes do G8, “eles não podem mais ser ignorados”. O hit Sweet Dreams, da época do Eurythmics foi relembrado, com arranjo moderno.

Após a apresentação de Annie Lennox, Bob Geldof apresentou um vídeo sobre a pobreza na África e no fim, mostrou uma criança que estava morrendo de inanição. Em seguida, chamou ao palco Birhan Woldu, a mesma criança do vídeo que foi salva graças ao dinheiro arrecadado pelo Live Aid há 20 anos. “Ela é esta bela mulher. Que ninguém venha nos dizer que não é possível”, essas foram as palavras de Geldof, pouco antes de introduzir, Madonna, que totalmente emocionada, abraçou Birhan e lhe deu um beijo: “Foi um dos melhores abraços que já recebi na vida”, afirmaria depois, a rainha do Pop.

Madonna, que estava afastada dos palcos desde o fim de sua “Re-Invention Tour” do ano passado, entrou no palco provocativa como sempre: “vocês estão prontos para mudar a história?”, depois cantou divinamente seu clássico dos 80’s Like a Prayer, acompanhada de um coro gospel, e ainda emendou as músicas Ray Of Light e Music, que teve final apoteótico, com todo o público de Hyde Park cantando o refrão “music makes the people come together”.

Momentos Antológicos

A noite caiu em Londres, e com ela vieram os shows mais aguardados da noite. Sting relembrou o Police com Message In a Bottle e Every Breath You Take, esta última com alterações em alguns versos, porém mantendo o fundamental “We´ll be watching you”, para alfinetar aos dirigentes do G8, que se reunirão na Escócia na próxima semana para discutir a questão da miséria na África.

Mariah Carey protagonizou talvez o show mais insosso da noite, com o habitual desperdício de técnica vocal e gritinhos semi-tonados, fazendo a alegria dos comerciantes do parque e do público, que aproveitou para comer alguma coisa e ir ao banheiro. Depois de Madonna, Robbie Williams, que é um dos artistas mais queridos da Grã-Bretanha, agitou o público com garra e carisma, cantando We Will Rock You do Queen.

A apresentação do The Who aconteceu pouco depois. No repertório, as corretas Who Are You e Won’t Get Fooled Again (não seremos enganados de novo). Pete Towshend e Roger Daltrey, únicos sobreviventes da formação original da banda, mostraram que continuam em boa forma, mesmo depois de 40 anos de carreira.

Diante de um público totalmente em êxtase, David Gilmour e Roger Waters, quebraram o jejum de 24 anos, tempo que ficaram sem se apresentar juntos, dividindo o palco a frente do Pink Floyd. Money, música do clássico disco Dark Side Of The Moon de 1973, fez muita gente viajar no tempo e no espaço, num dos momentos mais marcantes e mágicos da história do rock ‘n’ roll, sem dúvida.

Paul McCartney, talvez o maior e único ícone vivo da história da música popular mundial, voltou para fazer o encerramento do espetáculo, que durante 12 h teve a missão de entreter e lembrar a todos o que de fato acontece na África. Paul veio com Get Back e na sequência Drive My Car, auxiliado pela poderosa voz de George Michael. Para o grand finale, um medley de The Long And Winding Road (para lembrar que a questão da África é uma longa caminhada) e Hey Jude, com grande parte dos artistas que participaram do show em Hyde Park, cantando o refrão mais famoso de todos dos tempos “na na na na na”.

Evento encerrado, ficou a mensagem de que realmente a música faz com que as pessoas se unam, tanto os rebeldes quanto os burgueses, e dessa vez de uma maneira singular, jamais vista.

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