Em paz com a mídia, Lobão volta a cena em sua melhor forma


Lobão passou uma década inteira brigando com as gravadoras por onde passou (como a BMG, antiga RCA, e a EMI, em 1995) e, por consequência, com todo o sistema fonográfico e o esquema de “jabá” dominante por aí. Exigiu a numeração dos CD’s, detonou publicamente amigos colegas de profissão – como Lulu Santos, Herbert Vianna e Gilberto Gil, de quem um dia gravou Tempo Rei – e disparou sua metralhadora contra quem revisitava a própria obra, em projetos acústicos e ao vivo, considerados por ele decadentes e “caça-níqueis”. E, nesse meio tempo, se lançou independente, com o seu universo paralelo de venda de discos em bancas de jornal.

Quem acompanhou toda esta história, deve estar se perguntando o que levou João Luís Woerdenbag Filho, 49 anos, a inverter o seu discurso em pleno 2007, ano em que a crise da indústria do disco parece dar seus últimos suspiros: de volta a uma grande companhia de discos – a Sony Music – Lobão, acompanhado por uma super banda, reconstrói grandes sucessos e apresenta novas canções em um… Acústico MTV! Sem culpa, sem crise, sem arrependimentos. Jogada de marketing? e por que não?!

Abrindo os trabalhos, Lobão mete o pé na porta com a ácida El Desdichado II, de versos fortes como “Eu sou a Execução, a Perfuração / O Terror da próxima edição dos jornais / Que me gritam, me devassam e me silenciam” . Amenizando o clima, uma seqüência que alterna hits dos anos 80 com produções de sua fase indie: Essa Noite, não (1989), Decadence avec elegance (1985) e Rádio Blá (1987) se misturam entre A vida é doce (1999), Quente e Você e a noite escura (2005).

Falando de amor, através do rock

Polêmicas à parte, se há uma coisa que Lobão sabe fazer (e bem) são grandes canções de amor, pontuadas pelo rock. Me chama, uma das músicas mais executadas em 1984 (nas vozes de Marina Lima e de Lobão) é um delas, e agora está de volta, pilotada pelo seu criador. Outra pérola romântica que ressurge em formato acústico – que valoriza ainda mais a sua beleza – é Por tudo que for, que originalmente abria o lado B do LP Cuidado! , em 1988., além de Noite e dia (1986): “Você está me convidando / Menina quer brincar de amar…”.

Mas é na categoria pop que boa parte das faixas deste Acústico MTV se enquadram: Canos silenciosos, Bambino, A queda, Pra onde você vai e Corações psicodélicos são bons exemplos disso, que se juntam a O mistério (canção perdida do repertório do Vímana, banda formada por Lobão, Ritchie e Lulu Santos na década de 70), e a inédita – e muito otimista – letra de A gente vai se amar, que fecha o álbum.

Talvez uma das pistas para entender o motivo desta mudança de discurso de Lobão seja a vontade de resgatar a imagem de bom músico, cantor e compositor que, durante anos, ficou em segundo plano em meio a tantas trocas de farpas públicas entre ele e a indústria cultural brasileira. E nada melhor que a série da MTV e seu forte apego com o público jovem para que o velho lobo seja (re)descoberto por uma geração que só o viu como o “chato que reclamava de tudo”. Talento ele tem, de sobra. E este Acústico MTV já pode ser considerado como um de seus grandes trabalhos, como seus três primeiros discos: Ronaldo foi pra guerra, O rock errou e Vida bandida, todos feitos em sua fase “de bem” com a mídia. Confira.

1 thought on “Um lobo bonzinho

  1. outro dia ouvia o rádio e tive a feliz surpresa de ouvir Lobão! e o melhor, a musica (Ipanema No Ar) é linda demais! parabens!

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