Mutante: Michael Jackson em 1979, 1987 e 1998
Mutante: Michael Jackson em 1979, 1987 e 1998

Criança prodígio da década de 1970, Ícone e astro absoluto dos 1980, esquisitão dos anos 1990, Michael Jackson chega aos 47 anos totalmente deslocado dentro da indústria do disco, contabilizando 35 anos de carreira, recordes de vendagens, e bizarrices.

Michael nasceu em 29 de agosto de 1958 em Gary, Indiana. Sétimo filho entre nove crianças, passou boa parte de sua infância à mercê dos diversos maus tratos desferidos por seu pai, Joseph, e dos ensaios junto aos irmãos Marlon, Jermaine, Jackie e Tito.

Em 1968 era lançado, pela gravadora Motown, o primeiro disco do Jackson 5, grupo formado pelos filhos de Joseph. O carisma natural e a voz abençoada do menino Michael Jackson rapidamente fizeram muito dinheiro e produziram diversos hits: ABC, I Want You Back e Ben, entre outros. O preço disso tudo, parece estar saindo caro à Michael até hoje, afinal de contas, ele nunca teve nem de longe uma infância normal, e isso se reflete nos problemas que vem passando, devido à sua imagem e atitudes.

Em 1978, participou como ator de uma versão negra do clássico O Mágico de Oz, ao lado da amiga e ídola Diana Ross. Pouco tempo depois, abandonou a banda dos irmãos e seguiu rumo à carreira solo, juntando-se ao mago e amigo Quincy Jones, com quem construiria, nos anos seguintes, uma carreira sólida e aparentemente inabalável.

Off The Wall foi lançado em dezembro de 1979. A mistura de soul e disco music resultou num dos melhores discos já produzidos nos anos 1970. Do álbum, foram extraídos os hits Don’t Stop Till You Get Enough e Rock With You. Da noite para o dia, Quincy Jones havia transformado um astro mirim numa grande estrela da música.

Mas foi com o incrível lançamento de Thriller, em 1982, que Michael definitivamente marcaria seu nome na história da música mundial. O álbum produzido mais uma vez em parceria com o lendário produtor Quincy Jones tinha 9 faixas, sendo que 7 delas tornaram-se Top 10 hits. Billie Jean ganhou uma performance antológica na festa dos 25 anos da gravadora Motown. Foi lá que Michael imortalizou o moonwalking (o jeito de dançar em que ele anda para trás). Beat it foi outro estrondoso sucesso. A colaboração de Paul McCartney na canção The Girl is Mine rendeu a Jackson um convite para participar do disco Pipes of Piece, de Paul, cantando outro grande hit, Say Say Say.

Em 1984, na entrega anual do Grammy, o Oscar da música, Michael Jackson foi o grande vencedor, levando 9 gramophones para casa, incluindo os prêmios principais de “disco do ano” e “gravação do ano”, com Billie Jean. Ao todo foram mais de 30 prêmios e milhares de cópias vendidas de Thriller, até hoje o disco mais vendido de todos os tempos.

À essa altura dos acontecimentos, a vida de Michael Jackson se resumia a uma só palavra: êxito. Mas nem tudo funcionava exatamente dessa maneira. Durante toda a sua infância, Michael havia abdicado de sua vida pessoal em favor da vida profissional. Desde os 5 anos, nunca havia parado de trabalhar, e agora estava com 25 anos. A imprensa estava cada vez mais interessada na intimidade do mais bem sucedido cantor da década.

Com pódio de chegada, mas sem beijo de namorada, foi criado em 1985 o projeto USA For Africa, o lançamento de um single beneficente a favor das crianças famintas da África. A união de Michael Jackson e Lionel Ritchie resultou na super executada We Are The World, que ainda contou com a participação de uma verdadeira constelação de estrelas do showbiz, como Diana Ross, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bob Dylan, Bruce Springsteen, entre outros. O single foi o mais vendido do ano de 1985, mas não conseguiu ajudar nem 10 % da população faminta da África. Foi no período pós-lançamento de We Are The World que começaram as primeiras mudanças no rosto de Michael. O nariz era algo que o incomodava (e ainda incomoda) muito. Reza a lenda que Joseph, pai do astro, é o responsável pelas várias cirurgias plásticas as quais Michael já se submeteu. Durante a infância, seu pai costumava lhe dizer que ele era feio, por conta do nariz largo. Nessa mesma época, o Vitiligo, doença que afeta a pigmentação da pele, teria se manifestado no corpo de Jackson.

Bad marcaria a nova fase de MJ em 1987. Cinco anos tinham se passado desde o lançamento do disco anterior. Nesse mesmo tempo, outros artistas pop, como Prince, Cyndi Lauper e Madonna, haviam conquistado espaço nas paradas de sucesso. Agora, Michael não estava mais sozinho no pódio.
Visivelmente mais claro ou menos negro, Michael acertou e voltou direto para o topo dos charts, com o lançamento de Bad. O videoclipe da música-título, dirigido por Martin Scorcese, mostrou um Jackson mais agressivo, porém menos convincente. O disco vendeu menos que Thriller, mas ainda assim, gerou 6 grandes sucessos: as músicas Dirty Diana, I Just Can´t Stop Loving You, Man In The Mirror, The Way You Make Me Feel, Smooth Criminal, além de Bad.

E o tempo continuou passando e só Michael não viu. Foram mais 4 anos até o lançamento de um novo disco, dessa vez, Dangerous de 1991. Michael Jackson rompeu a parceria de anos com o produtor Quincy Jones. É verdade que estava em busca de novas sonoridades, afinal de contas, eram os anos 1990, e a transição era necessária. Um disco literalmente perigoso. Dangerous teve sucesso modesto. Na capa, apenas os olhos maquiados de Michael, envolvidos por uma máscara repleta dos mais diversos desenhos e símbolos. O primeiro single, Black or White, trazia o rei do pop branco, de nariz afinado e cabelos hidratados. Sem dúvida alguma, um choque. Black or White era uma tentativa de se acalmar os ânimos.

Em 1993, durante a turnê mundial do disco Dangerous, um escândalo se abateu sob a vida de Michael: foi acusado de molestar menores de idade, em sua casa em Neverland. A terra do nunca, construída por Jackson, era um mundo infantil à parte, construído para preencher sua imbecilidade e satisfazer suas excentricidades. Era também o local onde o cantor costumava receber visitas, em sua maioria, crianças. MJ não tinha noção de como aquilo tudo estava prejudicando sua vida e sua carreira. De qualquer maneira, foi julgado inocente.

No ano seguinte, depois de pelo menos 6 meses enclausurado, Jackson apareceu na entrega do MTV Video Music Awards ao lado de Lisa Marie Presley, e causou furor ao beijá-la ao vivo em rede internacional. Depois, casaram-se e pouco tempo depois, se separaram, causando mais estranhamento ainda e deixando a imprensa alarmada. Lisa Marie, ainda participaria do video de You Are Not Alone, single do novo álbum de Michael, History, disco duplo, coletânea com 15 dos seus grandes sucessos e mais um disco de inéditas, incluindo a participação de sua irmã não menos famosa Janet Jackson na faixa Scream, e um cover dos Beatles (cujos direitos autorais estão sob a guarda de MJ), Come Together.

Faz dez anos que Michael Jackson não lança qualquer material que seja de fato significante. Lançou apenas dois discos, a coletânea Blood On The Dance Floor, contendo remixes do disco anterior, History, e o fiasco Invincible, álbum que comprovou que Michael, nos dias de hoje, está longe de ser invencível. É verdade que nos últimos anos, MJ conseguiu o que sonhava há muito: ter filhos, e teve três, com a enfermeira Debbie Rowe, mas não se livrou de mais um escândalo: nova acusação de pedofilia, no final do ano passado. As acusações diziam que Jackson embebedava as crianças que levava para sua casa em Neverland e, em seguida, dormia nu com elas na mesma cama. O processo levou meses para ser julgado.

Diversos foram os problemas de saúde que se abateram sobre o rei do pop. Muitas audiências foram canceladas, devido às internações as quais Michael se submetia. Por fim, alegando inocência a todo custo, assim como fez em 1993, MJ foi absolvido mais uma vez.

Hoje fala-se muito na carência de novos ídolos pop. Talvez nunca veremos alguém como Michael Jackson. No fundo, nem devemos ter esta pretensão. Apesar de ter se tornado uma criatura estranha, desprovida de qualquer senso de direção e noção das coisas, é inegável o fato de que Michael contribuiu e muito para a cultura do século XX. Nunca existirá uma voz, uma presença e uma maneira de dançar como a de Michael Jackson. O que ele fez já é suficiente, vide as inúmeras coletâneas que ele tem lançado nos últimos 3 anos. Isso basta.

E mais:
– Em 1996, MJ esteve no Brasil para gravar, junto com o grupo Olodum, o clip da música They Don’t Care About Us, no Pelourinho, em Salvador, e na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
– Depois que adquiriu os direitos das músicas dos Beatles, Michael comprou uma briga com Paul McCartney e Yoko Ono.
– Rita Lee teve que pedir autorização à MJ em 2001 para gravar seu disco de covers dos Beatles, Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar. Algumas versões para o português foram vetadas.
– MJ responsabiliza a gravadora Sony pelo fracasso de Invincible, de 2001. Michael afirma que a gravadora não investiu o suficiente em divulgação.
– Vídeo Show, programa da Rede Globo no ar desde 1983, tem como tema de abertura uma versão de Don’t Stop Till You Get Enough.

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