4 de abril de 1958, Rio de Janeiro, RJ
7 de julho de 1990, Rio de Janeiro, RJ
Símbolo de uma geração – e fonte de inspiração criativa para outras – Agenor de Miranda Araújo Neto nasceu em abril de 1958, pouco antes do surgimento da Bossa Nova. Cazuza teve uma passagem breve pela vida, e talvez por isso tenha vivido – e aproveitado – cada momento como se fosse o último.
De criança amorosa à poeta do rock brasileiro, foi polêmico, contestador, sem medo de dizer o que pensava ou sentia. Isto em pleno fim da ditadura militar, onde ainda havia o “cálice” da censura, que começava a se partir.
Como músico, a carreira de Cazuza pode ser dividida entre as duas metades da década de 1980. A primeira – entre 1981 e 1985 – foi como a voz do grupo de rock Barão Vermelho, um dos mais importantes do BRock, conquistando público e crítica com sucessos inesquecíveis (“Bete Balanço”, “Por que a gente é assim?”, “Maior abandonado”, “Pro dia nascer feliz”, “Eu queria ter uma bomba”, entre outros). Um dos destaques desta fase é a memorável apresentação do Barão Vermelho na primeira edição do Rock In Rio, em 15 de janeiro de 1985, no mesmo dia que o Brasil se enchia de esperança com o surgimento da Nova República – e, consequentemente, com Cazuza saudando o novo momento.
A segunda, entre 1985 e 1990, foi marcada por sua carreira solo, e também pela coragem de assumir publicamente que era portador do vírus HIV, através de uma igualmente polêmica entrevista concedida à revista Veja, da editora Abril, na edição de 26 de abril de 1989. Na foto de capa, Cazuza aparecia abatido, com cabelos ralos e olhos fundos, com uma expressão totalmente diferente da que o público estava acostumado. A manchete de capa denunciava: “Uma vítima da Aids agoniza em praça pública”.

Neste período, lançou cinco discos: “Cazuza” (1985), “Só se for a dois” (1987), “Ideologia” e “Cazuza ao vivo” (1988) e Burguesia, LP duplo de 1989, que revelavam, entre outras faces, a veia poética do cantor e compositor, como em “O tempo não para” e “Faz parte do meu show”. Do mesmo ano, uma outra face, a da doença, começava a se revelar, através dos versos de “Ideologia” (“o meu prazer agora é risco de vida”) e “Boas novas” (“eu vi a cara da morte e ela estava viva, viva”).
Cazuza partiu em 7 de julho de 1990, mas deixou um legado cultural inquestionável. Sua obra permanece viva, e revisitada periodicamente pelas gerações seguintes, em regravações e projetos especiais. Além disso, em outubro de 1990, Lucinha Araújo criou a Sociedade Viva Cazuza, fundação que teve como objetivo prestar assistência à crianças carentes soropositivas, mantida através de doações e dos direitos autorais das composições escritas por seu filho.
Em outubro de 2020, após 30 anos de funcionamento em um imóvel na Rua Pinheiro Machado 39, no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e de ter cuidado de 328 crianças portadoras do HIV, Lucinha Araújo revelou, em reportagem ao Jornal O Globo, que a Fundação fecharia as portas. “Estamos realmente encerrando nossas atividades até o fim do ano, infelizmente. Motivos pessoais: falta de foco na Aids, crianças não nascem mais com HIV como antigamente e, principalmente, minha idade avançada” – revelou Lucinha, na época com 84 anos.
Viva Cazuza!
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