2006 foi um ano recheado de bons livros sobre música, principalmente brasileira. Biografias autorizadas e não-autorizadas, histórias sobre bastidores, reunião de textos e entrevistas consagradas, romance e até mesmo sexo: um pouco de tudo rolou ao longo dos últimos meses. E são algumas destas histórias que vamos relembrar a seguir.

Ana Maria Bahiana, “Nada Será Como Antes – MPB Anos 70 – 30 Anos Depois” (Senac Rio)
O livro, lançado originalmente em 1979, traz textos publicados por Ana Maria Bahiana em diversos veículos por onde passou na década de 70, entre eles uma badalada coluna musical no jornal O Globo. Esta nova edição vai muito mais além que a primeira, trazendo, além das reportagens sobre a movimentada produção cultural dos anos 70, matérias vetadas pela censura, como entrevistas de Chico Buarque, Tim Maia e Raul Seixas e novos comentários da jornalista em torno do que ela mesmo abordou, três décadas atrás.

Ana Maria Bahiana, “Almanaque Anos 70” (Ediouro)
O outro livro de Ana Maria Bahiana lançado este ano segue a esteira do sucesso de Almanaque anos 80, dos jornalistas Luiz André Alzer e Mariana Claudino, lançado em 2004. Desta vez, Ana Maria faz um apanhado geral da década do desbunde, das dunas da Gal e da “anistia ampla, geral e irrestrita”, através de programas de TV, recortes, anúncios publicitários e da música, entre outros elementos presentes na memória afetiva de quem viveu a década.

Henrique Bartsch, “Rita Lee mora ao lado” (Panda Books)
Através da personagem Bárbara Farniente, o autor narra histórias de Rita Lee Jones de Carvalho, desde antes de seu nascimento até meados da década de 90. Com um texto leve e irreverente, Bartsch (ou Bárbara) vai fundo em detalhes da carreira e vida pessoal de Rita Lee, incluindo Mutantes, Roberto de Carvalho, filhos, pais, irmãs, a amiga Elis Regina, afetos e desafetos. Em alguns momentos, o leitor tem a sensação que a própria cantora é quem abre o baú de memórias. Sobre o livro, Rita Lee declarou: “é um tratado arqueológico de minha vidinha vulgar, o encontro de vários elos perdidos”. Uma biografia totalmente autorizada, onde ficção e realidade se fundem em torno de um ícone da MPB.

Nelson Motta, “Ao som do mar e à luz do céu profundo” (Suma de letras)
Em seu mais recente livro, Nelson Motta – autor da autobiografia musical Noites Tropicais (2000) – estabelece uma série de tramas amorosas cujo pano de fundo é a Copacabana do final dos anos 50 e início da década de 60, com direito a muito samba, futebol, carnaval e lança-perfume, em doses exatas de humor, erotismo e suspense.

Gilda Mattoso, “Assessora de encrenca” (Ediouro)
Conhecida por assessorar artistas como Gilberto Gil, Gal Costa e Sting, Gilda Mattoso, personagem conhecida dos bastidores da MPB, resolveu contar em livro algumas das histórias que viveu ao longo das duas últimas décadas. Acompanhando a narrativa do livro, que tem prefácio de Caetano Veloso, Gilda – última mulher casada com Vinicius de Moraes – parece ter fugido de algo que poderia ter se tornado a tônica de seus relatos, caso fosse mais a fundo: encrenca. Mesmo assim, vale a pena conferir.

Rodrigo Faour, “História sexual da MPB – A evolução do amor e do sexo na canção brasileira” (Record)
Jornalista e pesquisador empenhado em promover um resgate à memória da MPB – vide obras como Bastidores (biografia autorizada de Cauby Peixoto) e Revista do Rádio, Faour fez nas quase 600 páginas de seu livro uma varredura sobre a sensualidade de nossa cultura musical, em um primoroso trabalho que traça um perfil comportamental do brasileiro através da abordagem sobre amor e sexo dentro de nossa música, desde as canções de dor-de-cotovelo até o funk dos dias de hoje.

Zeca Camargo, “De A-Ha a U2: os Bastidores das Entrevistas do Mundo da Música” (Globo)
Depois de dar a volta ao mundo, o apresentador do Fantástico reúne neste livro 53 entrevistas que realizou com astros da música nacional e internacional ao longo de sua carreira. Através de um texto divertido, o jornalista (que foi VJ nos primeiros anos da MTV no Brasil) promove uma inserção do leitor no fantástico e conturbado mundo que permeia o jornalismo musical. Vale lembrar, por exemplo, que foi a Zeca Camargo que Cazuza revelou que era portador do HIV, no final da década de 80. Um livro pop, tal qual o perfil dos entrevistados e a obra de Zeca Camargo.

Paulo César de Araújo, “Roberto Carlos em Detalhes” (Planeta)
O mais recente lançamento sobre MPB é também, neste fim de ano, o mais polêmico. Paulo César de Araújo, em sua segunda incursão pela literatura musical, apresenta ao leitor uma pesquisa completa sobre a vida e a obra de Roberto Carlos, que levou cerca de 15 anos para ser concluída.
No livro, Paulo César revela detalhes da vida de Roberto, como o acidente que, ainda criança, o levou a ter uma de suas pernas amputadas, o início de carreira, a jovem guarda e o estrelato, transformando-o no maior nome da música popular brasileira, através de quase duas centenas de entrevistas exclusivas realizadas por ele com nomes como Caetano Veloso e João Gilberto.
Lançado no início deste mês de dezembro, Roberto Carlos em detalhes provocou a indignação do rei, única pessoa na qual Paulo César de Araújo não conseguiu entrevistar em todo este tempo.
Em entrevista coletiva realizada no dia 11 de dezembro, Roberto Carlos revelou que irá processar o escritor baiano e, segundo ele, o livro não ficará à venda por muito tempo: “Eu me sinto agredido na minha privacidade. Isso me incomoda, me entristece, me irrita” – afirmou.
Paulo César de Araújo é também o autor do excelente livro Eu Não Sou Cachorro, não, de 2002, que fala sobre a perseguição dos governos militares do período da ditadura aos compositores ditos como bregas, mais especificamente Odair José.

3 thoughts on “Retrospectiva 2006 – Literatura Musical

  1. Oi, Beto
    E ainda tem a biografia de Milton Nascimento, que fiquei sabendo qu efoi lançada enquanto assistia ao Sem Censura especial com ele, que passou esta semana.
    abraço

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