Não fossem as angústias adolescentes de uma americana insatisfeita com a vida em sua pequena cidade, o rock provavelmente estaria ainda à procura de sua grande voz. Nascida em Akron, Ohio, Christine Ellen Hynde (foto, à esquerda) não se sentia confortável com a vida que levava e procurava rumos diferentes dos tomados por seus conterrâneos. Cresceu sonhando com as bandas de rock que ouvia no rádio e achava a Inglaterra um paraíso musical. Assim que decidiu levar o sonho a sério, pegou sua guitarra e mudou-se para Londres, com a simples pretensão de fazer o que ela mais gostava: tocar e cantar.

E em meio a brigas, empregos perdidos, flertes com Sid Vicious – com quem ela quase se casou para conseguir a cidadania inglesa – e até tentativas sem sucesso de ser levada de volta para casa por seus pais, Chrissie, como até hoje é chamada, conheceu o baixista Pete Fardon e começou com ele a transformar o sonho em realidade.

Ao ouvir as composições da garota mal-humorada e esquisita de Ohio, Pete se impressionou e chamou o amigo James Honeyman-Scott para gravar algumas das músicas e, caso gostasse, entrar na banda ainda sem guitarrista. James, porém, não se entusiasmou com a história e só veio a integrar o Pretenders anos depois, quando Chrissie e Pete conseguiram um produtor para as faixas que haviam gravado com ele. Martin Chambers assumiu as baquetas e estava consolidado o sucesso. Com o single Stop your sobbing, o Pretenders entrou nas paradas de sucesso inglesas e repetiu a dose com Brass in pocket.

Entretanto, a fama repentina não ajudou muito a harmonia do grupo, já estremecida pela dependência de drogas que deixava Pete Fardon cada vez mais distante dos projetos musicais. Logo após o término da turnê mundial, em 1982, Pete foi expulso da banda. No mesmo ano, Honeyman-Scott morreu após uma overdose de cocaína e Pete, meses depois, afogado no banho, depois de altas doses de heroína no sangue. A partir daí, ocorreram sucessivas mudanças na formação da banda.

Mas a musicalidade do Pretenders manteve-se firme e a identidade das composições era incontestável. Chrissie Hynde não era apenas uma garota deslumbrada com o rock e mostrou a que veio. A contralto de voz rasgada e marcante, com os olhos escondidos pela maquiagem pesada e a franja mal aparada era rock não só na aparência, mas também nas letras desafiantes e nas atitudes.

Amedrontadora para alguns, misteriosa para outros, Hynde nunca negou o teor autobiográfico de suas composições e é por suas letras que se pode perceber suas fraquezas, desejos e insatisfações. Portanto, o mistério não é tão grande assim. Por trás da cara amarrada há uma mulher que diz só saber expressar o que sente através de baladas ou melodias pesadas, embaladas por solos de guitarra e vocais abafados. Por trás dessa mulher, uma ativista da defesa dos animais, tentando passar seus ideais à frente nos shows, músicas e nas inúmeras aparições públicas em manifestações.

Apesar das mudanças, Chrissie continua mantendo vivo o Pretenders que idealizou. Ao lado Andy Hobson e Adam Seymour, seu parceiro em algumas composições, em 1994 gravou o disco Last Of The Independents, que marcou a volta de Martin Chambers na bateria em sucessos como I’ll stand by you e Night in my veins. O quarteto produziu mais quarto discos, que vão do mais puro rock´n´roll ao reggae e até versões de alguns clássicos, como Forever young e I wish you love.

Finalizada a turnê mundial do álbum Lose Screw, em 2004, Chrissie Hynde veio ao Brasil para uma pequena turnê com Adam Seymour e Moreno Veloso. Encantada com a bossa nova e vivendo entre São Paulo e Rio de Janeiro, chegou a declarar morte ao rock e deixou em desespero os fãs da banda.

Apesar de parecer esquecido pela própria fundadora, em Março de 2005 o Pretenders entrou para o Music Hall of Fame americano e dá sinais de recuperação. Eles tocam na cerimônia do UK Hall of Fame, na nomeação do The Kinks em Novembro deste ano com uma baixa: Andy Hobson está fora. Chrissie declarou apenas que sentiu necessidade de uma mudança.

Pode não ser muita coisa, mas para os fãs ávidos por novidades, é um sinal de novo gás para, quem sabe, um novo disco após dois anos de declarações confusas e raras aparições. O que se sabe é que, se depender de Chrissie Hynde, o Pretenders está longe do fim. Sorte do rock, ou mesmo da bossa nova.

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