Se não fosse a coragem, a personalidade e a ambição de alguns artistas extremamente peculiares, talvez estivéssemos vivendo e sobrevivendo a uma onda maior que a do preconceito, já camuflado e dissimulado, ao qual estamos acostumados a vivenciar e observar.

Por outro lado, o que há de errado em inovar e modificar através de métodos anticonvencionais? Por que o choque de ver uma noiva vestida de lingerie e roupa íntima sair de dentro de um bolo de noiva e rolar pelo chão? Afinal de contas, quem Madonna estava agredindo, ao expor a hipocrisia das virgens-noivas, que muitas vezes foram violadas por dinheiro e poder como qualquer prostituta? Touched for the very first time.

E o escândalo com a notícia de que Cazuza tinha Aids? O poeta ainda vivo, viu a “cara da morte e ela estava viva”. Foi vítima do preconceito. Gay ou não, é incontestável a riqueza e a qualidade da obra de um dos grandes poetas da música popular brasileira. “Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam um país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”.

“É proibido proibir”, cantou Caetano Veloso em plena ditadura militar. O regime fascista de linha dura estava literalmente proibindo qualquer coisa que fosse de encontro ao que estava estabelecido. E era certo o que estava estabelecido? E por quê o contrário é que estava errado? Ozzy Osbourne optou por comer morcegos ao vivo.

David Bowie e Ney Matogrosso são artistas que têm muito em comum. Nos anos 1970, barbarizaram a sociedade com a sua androginia e postura cênica multi-sexual (anos-luz à frente de Marilyn Manson!). A diferença é que, enquanto Bowie se autopromoveu e fez o que bem quis em Londres, aqui no Brasil Ney virou motivo de piada, e das mais agressivas, com certeza. E “Vira vira vira vira homem, vira vira…”

Muito antes disso, Lena Horne, diva do blues nos anos 50, depois de frequentar a piscina de um hotel, viu no dia seguinte a mesma piscina ser esvaziada e limpa. Ela era negra.

A verdade é que transgredir, ser “diferente” e original, no fundo parece um defeito ao invés de uma qualidade. A ditadura da música pop, das rádios e da TV, prefere valorizar uma festa no apê, ou alguma coisa que “porquê é imortal não morre no final”, ao invés de abrir espaço para os artistas de vanguarda.

Aqueles seres que estão trabalhando em novas sonoridades e ritmos, e que com postura, maquiagem, brincos ou não, estão decididamente à frente de muita gente que prefere comer bife com fritas, a degustar um delicioso escargot. Há de se ter dignidade e paciência, o mundo continua girando, só que a cada dia mais rápido, e o problema está na mentalidade quem “ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.

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