Gravações históricas revelam o início da carreira de Zé Ramalho

Antes de estourar nas paradas de sucesso com “Avôhai”, canção que abria seu primeiro LP, lançado em 1978, Zé Ramalho trilhou o mesmo caminho de (quase) todo artista, que segue pelos palcos da vida em busca do reconhecimento público.

Esta trajetória – registrada em fitas cassete gravadas diretamente das mesas de som entre 1973 e 1977, e guardadas pelo músico por quase 30 anos – chega agora ao formato CD, em “Zé Ramalho da Paraíba”, primeiro título do selo Discobertas, do pesquisador musical Marcelo Fróes, em parceria com a gravadora Coqueiro Verde.

Em 24 faixas, divididas em dois discos e três shows diferentes (“Atlântida”, de 1973, “Três aboios diferentes”, de 1974″, “Coletiva de música paraibana”, de 1976, além de um registro ao vivo de “Admirável gado novo”, já no Rio de Janeiro, em 77), Zé Ramalho apresenta canções que, em um futuro não muito distante, marcariam presença em seus álbuns, e também a história da música popular brasileira, como “Jacarepaguá Blues”, “A dança das borboletas”, “Falido transatlântico”, “Brejo do Cruz”, “Táxi Lunar” – parceria com Alceu Valença e Geraldo Azevedo, que aqui aparece com uma pequena variação na letra, diferente da que o público conhece: “Apenas apanhei em Cuiabá / Um táxi pra estação lunar”.

Zé Ramalho em 1978, em foto de divulgação de seu primeiro LP
Zé Ramalho em 1978, em foto de divulgação de seu primeiro LP

Título pinçado da frase utilizada por Marília Gabriela ao apresentar Zé Ramalho ao público em 1975, no Festival Abertura, quando ainda integrava a banda de Alceu Valença como guitarrista – “Zé Ramalho da Paraíba” traz ainda, entre outras curiosidades, históricos e inflamados discursos de Zé para a plateia, que traduzem bastante o clima de protesto dos anos 70, principalmente da João Pessoa daqueles dias, como “o bloqueio que os artistas paraibanos sofrem pelas diversas camadas que cobrem a sociedade” – conta. Ou a homenagem feita a seu avô, a quem dedica “Avôhai’, três dias após o seu falecimento, explicando ao público o significado da letra: “Eu nunca tive pai. Então Vovô fez o papel de avô e de pai, e antes de morrer fez o papel de filho também pra mim. Avôhai é uma palavra mágica. Avôhai significa avô e pai” – afirma, emocionado.

Mesclando momentos recheados da influência do rock e do pop, com a moda de viola, o movimento hippie e as raízes da música nordestina, entre outros elementos, “Zé Ramalho da Paraíba” pode causar espanto aos ouvidos mais desavisados, por causa da qualidade técnica, afinal, o tempo também fez sua parte na deterioração das fitas, digitalizadas por Marcelo Fróes no estúdio Old Wave, e remasterizadas por Ricardo Garcia no estúdio Magic Master. É um CD para colecionadores e aficcionados por música. Um bootleg bem cuidado, com informações sobre os músicos de cada show. Uma excelente discoberta.

Confira a relação de músicas de “Zé Ramalho da Paraíba”:

CD 1
Faixas gravadas durante o show “Atlântida”, em 1973:
01. Táxi Lunar
02. Jacarepaguá Blues
03. O autor da natureza
04. Brejo do Cruz
05. Puxa puxa
06. Luciela
07. Paraíba hospitaleira
08. Terremotos
Faixas gravadas durante o show “Um dia antes da vida”, em 1976:
09. Falido transatlântico
10. A árvore
11. A peleja de Apolo e Pam
12. O Astronauta
13. Meninas de Albarã
14. Aboio eletrônico

CD 2
Faixas gravadas durante o show “Coletiva de música paraibana”, em 1976:
01. O sobrevivente
02. Jardim das Acácias
03. Discurso 1
04. Avôhai
05. Discurso 2
06. Adeus segunda-feira cinzenta
07. A dança das borboletas
Faixa gravada durante o show “Três aboios diferentes”, em 1974:
08. O monte olímpia
Faixa-bônus gravada no Rio de Janeiro, ao vivo, em 1977:
09. Admirável gado novo

4 thoughts on “Os primeiros quilômetros do Táxi Lunar

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