Não adianta supor, temos que provar.

Se a trilha sonora do mundo anda cambaleando entre o meio fio e o asfalto, pronta para ser atropelada pela primeira carroça que passar, o problema é nosso! São diários consumos de gorduras musicais sufocando artérias, enfartando o primeiro ouvido que teme conectar-se há uma estação de rádio. “Aí chegou o gringo com o sequencer para prender o músico brasileiro na camisa-de-força do metronímico 4/4 rock-pop-box.’‘. Há um, entre eles, entre nós, que mudou a química, a fórmula, a visão cultural do que se ouve. O remédio para o pulsar da emoção. Ele está aqui! Alguém o vê? Alguém o ouve? O governo precisa providenciar óculos e aparelho auditivos para a multidão. Somos todos culpados pela miopia surda transcendental.

“Não era música, era vida”. Essa vida, amargada, excluída, esmagada ao máximo para extrair o licor suave da criação. “O pai da invenção”, diz os gringos. “Enterrado vivo no espólio do tropicalismo”, executa os nativos. “Santo de casa não faz milagre”, nem reza a missa. Ele é Tom Zé: a hóstia da criação, o zumbi que persiste em cavalgar nas Ancas da Tradição, trazendo a cada velhice do tempo um tempero novo para seus brilhantes defeitos, fabricados, construídos, praticamente perfeitas imperfeições.

A vasta lábia histórica que existe na vida de Tom é uma Bíblia que precisa de séculos para ser entendida. O futuro aguarda ansioso essa trajetória. Com sua nova odisséia já lançada pelo espaço, e a requisição de sua presença pelos quatro cantos do mundo, o “maluco” de Irará não pára: “E não vou parar”, promete.

No final do último mês Tom voou com uma mini turnê pela Europa. Os gringos não perdem tempo. Enquanto os brasileiros deixam o verdadeiro SOM de lado “para apreciar a lâmpada elétrica” da música popular, Tom adentra na escuridão para acender uma vela de curiosidades e imperfeições, que tornam suas músicas geniais. É o mel que os europeus precisavam para achatar suas caras de museu.

E menos de um mês, Tom Zé já se apresentou em Portugal (Porto, Lisboa, Loulé e Guarda), na França (Belfort), Itália (Roma e no próximo dia nove em Turim) e ainda participará no dia 10 do Festival de Montreaux, na Suíça e no Jazz Festival, em Vienne (França). O tapete vermelho do mundo saúda Tom Zé.

E nós? Bem ou mal, ficamos aqui, esperando ao menos sua volta, para tentar amenizar o mau gosto assolado pelo nosso Produto Interno Bruto. “Enterra bruto!”.

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