Roberto de Carvalho no Circo Voador - Foto: Fábio Vizzoni - Site Música e Letra

Ele não é apenas um grande guitarrista, pianista, produtor e compositor. É também astrólogo, pai, marido e agora também será avô. Assinando sua eterna parceria (musical e amorosa) com Rita Lee desde 1976, Roberto de Carvalho consegue colocar em suas melodias uma história já pronta, desde a suavidade romântica de “Mania de Você” e “Amor e Sexo”, até os misteriosos acordes de “Vítima” e “Vírus do Amor”. Seu último sucesso, em parceria com o poeta Arnaldo Antunes, é a música “Meio Fio”, cantada por Rita em seu disco “MTV ao vivo”. Com mais de trinta anos de estrada, com um disco solo lançado em 1992, Roberto faz parcerias por todos os cantos musicais, já compôs com Tom Zé, Itamar Assumpção, Caetano Veloso, entre outros.

Em entrevista, Roberto fala sobre tudo, mas principalmente sobre seu amor à música e a Rita Lee:

Todos os músicos, em geral, dizem ter uma base, ou seja, uma influência em que se apoiaram para adquirir um certo estilo, um jeito de transformar sua música. Juntando várias coisas que gostam, que ouvem, acatando partes dos músicos que idealizaram e transformam tudo isso em sua personalidade musical. Quais foram essas suas ditas “influências”, que você filtrou e absorveu no seu modo de fazer música? Hoje, mesmo sendo você que influencia muita gente, ainda há alguém que você considera um atual ponto de referência?
Rita Lee, João Gilberto, Tom Jobim, Beatles, Stones, Caetano, Gil, Jorge Mautner, Cole Porter, Milton Banana Trio, e muito mais.

Muitos anos de vida musical se passaram desde os primeiros contatos com os palcos até a atual fase de grande sucesso e reconhecimento do seu gigante talento. Qual é a diferença entre os dois extremos, desde o “E trio” (primeiro grupo amador formado no colégio) até o atual Roberto, trabalhando em mais uma turnê de sucesso?
“E trio” era divertido, na época pré-golpe militar, meu colégio, o São Vicente de Paulo, no Rio, era super engajado politicamente, e nas reuniões do grêmio estudantil, o “E trio” se apresentava para amenizar o astral. Era bossa-nova total. Eu era adolescente.

Antes da música, você chegou a exercer outra profissão? E se não fosse músico, qual seria o seu hobby profissional?
Bom, fiz dois anos e meio de Direito, o meu objetivo era ser diplomata. Depois tranquei a matrícula e fiz 6 meses de Comunicação. E trabalhei durante um ano e meio como caixa no cartório de um tio, que foi muito importante porque me tornei independente financeiramente do meu pai. Nunca achei que fosse ser músico profissional. Aliás, acho que música não é exatamente uma profissão. É mais um hobby que deu certo.

O casal Lee/Carvalho está radiante com a notícia do primeiro netinho. Mais um sonho realizado. Como está o “coração babão” do vovô?
Era um sonho mesmo. Fiquei muito entusiasmado com essa história, uma coisa hormonal.

Qual é o maior tesão na gravação de um disco em estúdio e na estrada, percorrendo o Brasil com uma turnê?
O tesão é quando o disco fica pronto. A tensão, quando é lançado.

Alguns (cri)críticos de música acham que rever a carreira musical em um disco ao vivo é um tipo de estagnação. O que você acha sobre essa onda de CDs e DVDs “ao vivo” e a opinião desses “chatos de plantão”?
Bom, em muitos casos é estagnação mesmo. No caso do MTV ao vivo, por mim teria sido somente DVD, porque eu achava que o show do Balacobaco precisava ser registrado, e virar CD era uma contingência necessária. DVDs ao vivo, acho legal.

Fora dos dias de correria, no calmo leito do lar, junto aos bichanos do mini-zôo na sua casa, ainda há ouvidos para escutar música? Qual o som que não deve faltar nunca?
Sou um ouvinte ciclotímico, alternando fases em que ouço muita coisa com outras em que não ouço absolutamente nada. Mas na minha cabeça, existe um iPod virtual, que parece estar constantemente ligado, então ouço e toco virtualmente.

A gente ouve rádios a fora, um grande “mal estar” na música brasileira. Um total comércio exagerado, que maltrata o bom gosto do país e jogam na nossa cara muitas coisas que sabemos ser de puro interesse pelas riquezas que estão por trás do rostinho bonito desafinado. Apesar disso, a força da independência musical está cada vez maior e pode-se mais facilmente colocar nas ruas os trabalhos que foram desmerecidos pelas grandes gravadoras. Qual seria o remédio para deixar a arte musical livre da mão de poderosos sem visão do real talento do país? E quais são as caras bacanas da música que merecem ser escutadas com uma atenção maior?
A indústria da música está num momento crítico, e todo mundo tem teorias sobre o porque. A música brasileira, acho que vai bem, obrigado, mas sofrendo consequências negativas por estar atrelada a uma indústria que está se desintegrando. Particularmente vejo a situação com um certo desalento. Mas o que está mais me preocupando no momento é que no, digamos assim, primeiro mundo, os grandes arquivos de e-music vão adquirindo um papel fundamental , substituindo o produto CD, o iPod, o I-River, etc. e aqui no Brasil, além dessa tecnologia ser caríssima para nossa realidade, existem agravantes sérios relacionados com divergências entre gravadoras e editoras em relação a royalties a serem cobrados. Isso é uma cagada, porque o grande patrimônio de música brasileira, histórico, não está disponível em formato emusic. Um rio de dinheiro vai se perdendo, e tecnologicamente vamos em direção à idade da pedra.

Letra e música. Violão, piano, um batuque na mesa de jantar, uma inspiração após o amor… como começa uma canção da dupla Rita e Roberto?
De todas as maneiras possíveis.

Deixe um recadinho para os internautas fãs do talento musical inimaginável que há em toda sua persona…
Prefiro deixar um grande beijo!

1 thought on “Entrevista: Roberto de Carvalho

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