Fãs de bandas, músicos e cantores dizem por aí o que pensam sobre seus ídolos e como transformaram suas vidas por esse sentimento “platônico”

Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club, e Raul Seixas, em 1981

Há quem passe o dia todo pensando no trabalho, nos afazeres domésticos ou em problemas comuns do dia-a-dia, porém alguns outros pensam, em quase a totalidade das horas vividas, em uma só coisa: seu ídolo. Por mais que falem por aí que ser fã de algum artista, personalidade, ou quem quer que seja, é perda de tempo, eles não se importam, afinal os próprios tietes não sabem explicar de onde vem esse grande “estranho” amor. Seria genético?

A jovem Marcela Duarte desperta toda manhã para ir à escola ao som de Zélia Duncan. Toma café, escova os dentes, apronta a mochila e, ao desligar o som de casa, já se conecta ao discman, para continuar os passos até o seu destino ouvindo todo dia a voz grave de sua idolatrada. Ela só não permanece com os fones durante a aula porque não é permitido, porém as músicas de Zélia continuam em sua mente, como se um rádio estivesse implantado em sua cabeça. No quarto de Marcela, fotos, pôsteres, discos de vinil pendurados por todo canto, quadros com enormes retratos de sua cantora preferida. Mas porque será que Zélia Duncan foi a escolhida de Marcela? “Não sei te dizer, de uma hora para outra, depois de escutar a canção ‘Alma’ (do álbum ‘Sortimento’, de 2001) eu me apaixonei por suas músicas e sua voz nada convencional”, conta a fã que já foi a vários shows da cantora, conseguindo autógrafos e fotos.

Zélia Duncan, com toda sua simpatia, diz não ter fórmulas para administrar seu contato com os fãs: “Tenho minha visão, somada à experiência e acho que o mais bacana é que se perceba limites e que o fã saiba que é tão humano quanto ele e que, longe dos palcos e das luzes, muitas vezes essa normalidade é tudo que ele quer. Eu particularmente dou muito valor aos que se identificam com meu trabalho e demonstro isso, bem como deixo claro meus limites e, assim, tudo tem andado muito bem”, conta a cantora via e-mail.

Sylvio e Raul

Para alguns fãs a paixão não vem de imediato. Há casos em que em que o primeiro contato é justamente o inverso, como o de Sylvio Passos, presidente e fundador do fã-clube “Raul Rock Club” desde 1981: “Eu odiava Raul Seixas na primeira fase de minha adolescência, aliás, eu detestava qualquer música cantada em português. Para mim não existia Rock and Roll no Brasil. Só alguns anos mais tarde, em 1978/79 é que fui descobrir Raul Seixas, Mutantes, Peso, Joelho de Porco, Terreno Baldio, Som Nosso… e então identifiquei-me de imediato com as idéias de Raul e descobri que no Brasil se fazia Rock and Roll e dos bons”, conta o fã sortudo que se tornou amigo fiel de seu ídolo, quebrando a barreira muitas vezes existente na relação entre o admirador e o admirado. Sylvio concorda que para ser fã é preciso ter afinidade na postura, atitude e ideologia do artista.

Nando Reis e integrantes de seu fã-clube

Os fã-clubes, em geral, acatam admiradores de diversas idades e estilos, gerando, por suas identificações igualitárias, grandes círculos de amizades. O carioca Wander Oliveira, de 33 anos, se diz tocado com as músicas de Nando Reis desde quando o compositor ainda era integrante dos Titãs e compondo suas canções para grandes nomes da música, como Marisa Monte e Cássia Eller. Wander fundou junto com sua esposa Patrícia o fã-clube Oficial de Nando Reis, a pedido da própria produtora do artista. “Há várias pessoas que sempre nos ajudaram, colaboram e fazem o nosso trabalho um pouco menor”, conta Wander, que não deixa dúvidas quanto a importância da amizade entre os fãs de um artista: “em época de shows as amizades feitas através do ídolo acabam fazendo com que haja uma expectativa ainda maior do que a própria apresentação”.

Nando Reis e integrantes de seu fã-clube

O fã-clube de Nando Reis fornece um grande espaço para esse círculo de amizades do país inteiro. É o caso de Elaine Cristina da Luz, de 19 anos e Fernanda do Nascimento Faria, de 24 anos que, apesar da grande diferença de endereço, assim como Wander, tem uma paixão pelo ex-titã. Para elas o principal ponto de afinidade com o ídolo é a identificação pessoal com suas músicas. “Acho Nando Reis genial por tudo que ele fala em suas canções”, conta Fernanda, de Franca, interior de São Paulo. Elaine, paranaense de Foz do Iguaçu, afirma: “quando somos fãs, você sente tanto, você quer ver, tocar, sentir que é de verdade, quer ouvir a música toda hora”.

Seja qual for a diversidade dos sentimentos, a verdade é que para se admirar, se apaixonar por alguém de qualquer forma a regra é não existir regras. Fãs, tietes, groupies e demais títulos adotados, devem ser respeitados, afinal, não escolhemos a quem amar, amamos puramente por algo irreconhecível presente em nossos corações.

Fã-clube Raul Seixas: www.raulrockclub.com.br
Fã-clube Nando Reis: www.faclubenandoreis.com.br

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